A doença de Alzheimer é uma doença cerebral, progressiva, irreversível e
com causas e tratamento mal conhecidos. Começa por atingir a memória e,
progressivamente, as outras funções mentais, acabando por determinar a
completa ausência de autonomia dos doentes. Os doentes de Alzheimer
tornam-se completamente dependentes e deixam de reconhecer os rostos
familiares.
A forma mais comum de Doença de Alzheimer (DA) ocorre na idade idosa e é
caracterizada pela deposição de β-amiloide (βA) no cérebro. (Figura 1)
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Figura 1 – Placas de amilóide (5) |
Os indivíduos com Alzheimer de início tardio produzem péptideos
β-amilóide a níveis normais contudo apresentam um comprometimento na
capacidade de os eliminar do cérebro.
Elevados níveis de βA estão associados com perturbações da função
sináptica e da atividade da rede neuronal que provavelmente estão
subjacentes aos défices cognitivos da DA.
Além do mais, a acumulação de βA leva à sua deposição em placas e
acredita-se que conduz a uma cascata patológica, que leva à morte
neuronal.
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Figura 2-A hipótese da doença de Alzheimer como uma patologia do envelhecimento.(6) |
O factor de risco genético mais influente na DA esporádica é a variação
alélica na apolipoproteina E (apoE). A presença de um alelo apoE4
aumenta significativamente o risco de doença. A ApoE actua normalmente
como esqueleto na formação de particulas de HDL (highdensity
lipoprotein), o que promove a degradação proteolítica de formas solúveis
de βA.
A expressão de apoE é regulada pelos receptores activados por ligando:
peroxisome proliferator–activated receptor gamma (PPARy) e liver X
receptors(LXRs). Estes formam heterodímeros com retinoid X receptors
(RXRs). A actividade transcriptional é regulada pela ligação de
qualquer dos membros do par.
PPARy:RXR e LXR:RXR actuam para induzir a expressão de apoE, os seus
transportadores lípidos ABCA1 e ABCG1 e mesmo os receptores nucleares.
Agonistas destes receptores também actuam em macrófagos e na microglia
para estimular a sua conversão para estados “alternativos” de activação e
promover a fagocitose. A administração crónica de LXR e PPARy agonistas
reduz os níveis de βA e melhor a função cognitiva nos modelos de
ratinhos com DA.
O bexaroteno (Targretin), foi aprovado pela Food and Drugs
Administration, em 1999 e é um agonista RXR usado no tratamento de um
linfoma cutâneo de células T.
Neste artigo, o bexaroteno foi usado para aumentar a eliminação de βA
através da ativação de PPARy:RXR e LXR:RXR , induzindo a expressão de
apoE, facilitando a eliminação de βA e promovendo a fagocitose
microglial.
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Figura 3 - Estimulação dos receptores
nucleares aumenta a expressão de apoE e a clearance de βA do cérebro por
um mecanismo que requer apoE (2) |
Os níveis de βA no líquido intersticial cerebral (ISF) foram
monitorizados através de microdialise hipocampal in vivo em ratinhos com
2 meses. O Bexaroteno baixou rapidamente os níveis de ISF βA 40 e βA 42
após 6 horas de administração, e com redução de 25% pelas 24 horas.
Esta supressão de ISF βA ocorreu devido ao aumento da clearance, pois a
meia-vida de βA 40 foi reduzida de 1,4 para 0,7 horas.
O bexaroteno não teve efeito nos níveis de βA em ratinhos apoE
“knock-out”, demonstrando assim que o aumento da clearance de βA no
líquido intersticial cerebral requer a presença de apoE.
Estas observações apoiam fortemente a hipótese que apoE tem um papel
critica na redução da quantidade de βA no cérebro através do aumento da
sua remoção, e que estratégias aumentando a expressão de apoE em doentes
poderá ser verdadeiramente modificador na DA.
Ao administrarem bexaroteno em ratos de 6 meses durante 3,7, ou 14 dias
observou-se que um aumento progressivo na expressão de apoE, ABCA1, e
ABCG1 e elevados níveis de HDL quer no hipocampo como no córtex
cerebral. Houve uma diminuição de 30% nos níveis de βA soluvel nos 14
dias de tratamento. βA insolúvel foi reduzida em 40% após 72 horas e
decrescendo progressivamente durante os 14 dias seguintes.
Placas de βA totais foram reduzidas em cerca de 75% após 14 dias de tratamento de bexaroteno.
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Figura 4 – Imagem do córtex e do hipocampo de
ratinhos tratados com bexaroteno e ratinhos sem tratamento marcados com
anticorpo anti-βA, 6E10. (1) |
Também foi testado o efeito crónico de tratamento com bexaroteno
(diariamente durante 3 meses) em ratinhos com pelo menos 6 meses de
idade. Encontraram elevados níveis de apoE, ABCA1, ABCG1 e HDL. O
bexaroteno reduziu os níveis de βA solúvel em cerca de 30%, contudo a
quantidade de placas amiloides não sofreram alterações.
Não obstante, o tratamento com bexaroteno rapidamente restaurou a
memória e a cognição, avaliada pelo condicionamento de medo contextual
nos ratinhos tratados por 7 dias (com 6 ou 11 meses).
Finalmente, os autores verificaram se o bexaroteno poderia recuperar a
sensação olfactiva (perdida na DA), que se encontra altamente
correlacionada com a deposição de βA. Bexaroteno melhorou a sensação
olfactiva após 9 dias de tratamento em ratinhos com 12 a 14 meses de
idade.
Concluindo, neste trabalho demonstrou-se que o bexaroteno reverte os
efeitos de neurodegeneração em modelos de ratinhos com DA, o mecanismo
da apoE e que a manipulação farmacológica de um medicamente que já se
encontra aprovado pela US Food and Drug Administration para outra
patologia, aumenta dramaticamente a expressão de apoE, acelera a remoção
de βA do cérebro e, além disso, inverte comportamentos anormais nos
modelos de ratinhos com DA.
Este estudo dá nova esperança a décadas de investigação de examinação de
vias celulares e moleculares na DA que poderá em breve desenvolver
novas terapias para esta doença.
Contudo e apesar de providenciar grande motivação para ensaios clínicos,
as observações nos ratinhos pode não ser necessariamente extrapolado
para humanos.
A sequência de aminoácidos da apoE nos ratinhos não é idêntica a nenhuma
das isoformas da apoE humanas, e o modelo transgénico de ratinhos não
recapitular o emaranhado neurofibrilar da neuropatologia da DA. A rápida
remoção de βA do cérebro dos ratinhos pode ter ainda consequências
inesperadas no comprometimento da integridade da barreira
sangue-cérebro.
Apenas ensaios clínicos cuidadosamente realizados poderão determinar se
esse medicamento, ou medicamentos relacionados, podem beneficiar os
doentes com DA.
Bibliografia
2 Comentários:
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