terça-feira, 4 de agosto de 2009

NGF – Fator de crescimento dos neurônios e morte planejada - Drauzio Varella

Em 1956, Rita Levi-Montalcini e Stanley Cohen inauguraram a era da neurociência do desenvolvimento ao descrever a primeira proteína dotada da propriedade de agir como fator de crescimento das células nervosas. Foi chamada de NGF (Fator de Crescimento dos Neurônios), proteína essencial para a sobrevivência dessas células, capaz de enviar sinais contínuos para que um neurônio dirija suas terminações na direção de outro e forme uma sinapse.
Depois do NGF, foram descritas diversas moléculas com propriedades semelhantes e importância decisiva na formação do embrião.
Na embriogênese humana, a multiplicação dos neurônios é tão rápida que ao chegar no terceiro trimestre de gestação o número de neurônios do feto atinge o dobro dos 100 bilhões encontrados no adulto. Entre eles, então, surge um processo de competição pela disponibilidade dos fatores de crescimento de tal ordem que os neurônios incapazes de formar sinapses estáveis são marcados para morrer.
Nessas circunstâncias, no núcleo dos neurônios mal conectados, um grupo de genes põe em ação um programa de morte celular premeditada. Acontece, então, um suicídio em massa de neurônios, fenômeno conhecido como apoptose, palavra grega que descreve a queda das folhas das árvores no outono. No melhor estilo darwinista de competição e seleção natural, sobrevivem à apoptose coletiva apenas os neurônios mais aptos, que conseguiram formar sinapses bem estruturadas.
A presença ou ausência de determinado fator de crescimento pode atrair um axônio na direção das terminações de outro neurônio ou desviá-lo para formar sinapse com um terceiro e, assim, sucessivamente, até formar as malhas ou redes de transmissão de informações características de cada espécie animal.
O mais surpreendente desse processo é que as conexões se organizam a partir do reconhecimento mútuo do desenho espacial das moléculas presentes nas terminações dos dois neurônios, nas fases iniciais do desenvolvimento embrionário. Essa foi uma das maiores contribuições da década de 1990 para a Neurociência moderna: a descrição da arquitetura das sinapses baseada nas moléculas que as constituem. A partir dela, a Neurociência deixou definitivamente de ser descritiva para se tornar uma disciplina molecular.

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